Publicado
no volume 51, nº 1 de 2014, do Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, o artigo de
revisão Sinais dermatológicos clássicos
na medicina veterinária, do Prof. Dr. Carlos Eduardo Larsson teve ótima receptividade
e grande repercussão, que se reflete no alto número de downloads do artigo.
Sendo assim, o BJVRAS foi conversar com o Prof. Larsson sobre essa repercussão
e conhecer mais sobre a história do autor e do tema.
BJVRAS - Há
quanto tempo o Sr. Pesquisa sobre o tema do artigo?
Prof. Dr. Carlos Eduardo Larsson - Na verdade, os “sinais
dermatológicos clássicos”, desde que me iniciei na dermatologia veterinária, há
cerca de 40 anos, passaram a fazer parte do meu cotidiano. No diário da
clínica, no seu senso lato, muitos são pesquisados, buscados amiúde tal como os
clássicos “sinais de Godet” ou da “pele encabidada”, de forma quase que
obrigatória no exame físico do paciente.
Eram poucos,
nas décadas de 70 e 80, os médicos veterinários que se dedicavam com maior
afinco à dermatologia. No Estado de São Paulo, na verdade, eram apenas dois,
militando na UNESP e na USP, em municípios relativamente distantes.
As dúvidas e
inquietações geradas pela escassez de livros e de colegas que permitisse o
“intercambio” de experiências levaram-nos a frequentar serviços e departamentos
voltados à dermatologia humana. Eu, pessoalmente, passei pelos Departamentos de
Dermatologia da FMVZ/USP e da hoje UNIFESP, chefiados, respectivamente, pelos
saudosos Professores Sebastião de Almeida Prado Sampaio e Raymundo Martins de
Castro, ambos com estreitos vínculos com a medicina veterinária. O primeiro,
pai de ex-aluna da FMVZ-USP, e, o segundo, filho do professor Abílio Martins de
Castro, ex-docente da vetusta então FMV/USP. A frequência semanal àqueles
Departamentos, com centenas de atendimentos diários, propiciou-me a
possibilidade de rápido aprendizado, mostrando-me como deveria “ver”,
“enxergar” as lesões cutâneas elementares, desvendar os segredos do
diagnóstico, embasado no exame dermatológico de “per se” e, ppl/e, evidenciar
os “sinais” dermatológicos, sempre presentes, mas que passam desapercebido por
aqueles que se iniciam na “especialidade das especialidades”. A evidenciação
desses sinais passou a ser uma segura ferramenta na semiotecnica do exame
tegumentar.
BJVRAS - Qual
a relevância do estudo?
C.E.L. - O estudo e a caracterização
desses “sinais” facilitam em muito o estabelecimento do diagnóstico. A simples
inspeção direta e a palpação permitem que se estabeleça a presunção diagnóstica
sobre a dermatopatia, sugerindo inclusive a etiologia da enfermidade. É de
tamanha relevância que são, praticamente, cinquenta os sinais já descritos na
dermatologia humana e isto já de há muito tempo. A evidenciação dos sinais
poupa até o tempo dispendido pelo clínico para a minimização do sofrimento do
paciente e da angústia de seus aflitos proprietários
BJVRAS - Houveram
contribuições ou foi um trabalho de cunho pessoal?
C.E.L. - Na rotina da clínica inexiste
algo apenas pessoal, individual ou do “eu”, sem concurso de outros, mesmo de
acadêmicos dos cursos de graduação, sempre inquietos e inquisidores levando o
professor em ter sempre respostas condizendo plausíveis aos “porque”, “como o
senhor sabe”? “porque isso ocorre”? . Não deixa de ser prazeroso, levando a uma
satisfação toda pessoal, a caracterização rápida da causa, da evolução, da
prognose da enfermidade, seja ela boa ou má, alicerçada na caracterização do
“sinal”.
Infelizmente
nem todos, mesmo com eles tão presentes e evidentes, conseguem detectá-los.
Pessoalmente,
a partir do entendimento da valia da dermatologia comparada, passei a
busca-los, colecionando-os, anotando-os, os confirmando pela repetição de seu
achado em pacientes acometidos por uma mesma enfermidade ou quadro sindrômico.
BJVRAS - A que
o senhor atribui o sucesso do artigo?
C.E.L. - É bem difícil entender e explicar esse pressuposto
“sucesso” (SIC). Quiçá, a aparente simplicidade da busca e da caracterização do
sinal dermatológico, ou seja, “enxergar” o que “se vê” ou “se palpa” de forma
comezinha. Ou, ainda, a magnitude da frequência de seu achado na rotina da
clínica e, finalmente, o fato de serem bem poucos aqueles que a eles se
dedicaram e sobre eles escreveram. Realmente, é difícil julgar o tal “sucesso”...
que, se diga de passagem, também a mim surpreendeu.
BJVRAS - Como o Sr.
entende a importância da revista como meio difusor de conhecimentos acadêmicos
?
C.E.L. - A “Brazilian Journal” sempre
foi e continua sendo “A Revista”, pelos seus pioneirismos, qualidade, estima dos
“mais velhos” ao veiculo que sempre caminhou junto, pari passu, com a evolução da “Faculdade”. Nela publicar foi e
continua sendo um misto de desafio e prazer seja ela menos ou mais “qualisada”,
segundo as mutáveis e até insólitas qualificações.
O meu
entendimento de sua importância foi o que me levou, prontamente, a aceitar ao
aceno da possibilidade de publicar artigo desse naipe, que foge do “moderno”,
do “passageiro”, “da transitoriedade e da efemeridade” de outros artigos, sem
qualquer preconceito ou menosprezo a eles. A Brazilian é e continuará a ser “a
revista”, mormente com o esforço de tantos que hoje a ela se dedicam com o fito
de consolidá-la como periódico de escola.
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